Tem dias em que a gente acorda com vontade de sair correndo. Nem sabe direito para onde, mas sente aquela inquietação latente, um quase pressa de ser ou estar em outro lugar. Ontem foi um desses dias.
Levantei e fiz tudo no automático. Banho, roupa, chaves na mão. Já ia empurrando a porta para sair quando o cheiro do café subiu pela casa. Era um aroma morno, de abraço. Daqueles que a gente nem percebe que precisa, mas que vêm e nos seguram pelo braço, dizendo baixinho: “fica um pouco mais”.
Eu fiquei.
Peguei a xícara e me sentei à mesa. E, enquanto soprava devagar o vapor que subia, percebi o tanto de coisas que eu quase perdi na pressa de ir. A luz da manhã, atravessando a cortina e desenhando formas no chão. O barulho da colher mexendo o açúcar. O primeiro gole, aquele que sempre aquece de dentro para fora, como se o dia começasse só ali, no exato instante em que o café toca os lábios.
Engraçado como um simples café pode virar um portal para o presente. Como se, ao segurá-lo nas mãos, eu segurasse também a chance de não me atropelar, de permitir que a vida se ajeite ao redor antes de eu sair tentando organizá-la à força.
Então, eu fiquei mais um pouco. E mais um pouco.
E, quando saí, já não era com a pressa de fugir, mas com a leveza de quem ficou tempo suficiente para lembrar que o dia não precisa ser uma corrida — ele pode ser um gole de cada vez.