⏳ O Tempo que Nos Escapa
Outro dia, enquanto esperava na fila do supermercado, reparei em um senhor que conferia a lista de compras no celular enquanto falava com alguém no viva-voz e, ao mesmo tempo, tentava equilibrar um pacote de arroz no carrinho. Um malabarista do cotidiano. Do outro lado do caixa, uma moça pagava a conta e já pegava o celular de volta, deslizando os dedos rápido demais, como se a vida estivesse atrasada.
É curioso como, mesmo sem perceber, estamos sempre tentando preencher cada brecha do dia. Como se o tempo fosse um inimigo a ser domado, empilhamos tarefas na esperança de ganhar um espaço que nunca chega.
Tem o José, que acorda às cinco da manhã para atravessar a cidade de ônibus, encostando a cabeça no vidro gelado na tentativa de dormir alguns minutos antes do primeiro turno. Tem a Mariana, que trabalha e estuda à noite e sente que a última vez que teve um momento só para si foi em algum verão distante. E tem a Dona Lúcia, que depois de cuidar da casa, do marido e dos netos, senta no sofá, mas logo se levanta, sentindo culpa por não estar fazendo “algo útil”.
O tempo para respirar vira luxo. O tempo para criar, então, nem se fala.
Mas quando foi que desaprendemos a pausar?
Quando crianças, a gente inventava histórias enquanto observava o formato das nuvens, desenhava castelos invisíveis com os pés na areia, ficava hipnotizado pelo barulho da chuva no telhado. Criar não era um compromisso, era parte da existência. Mas agora, toda vez que tentamos parar, o relógio lateja no fundo da mente, como um lembrete incômodo de que há sempre algo mais urgente a ser feito.
E, assim, os dias passam. As listas de tarefas aumentam. E aquele tempo que a gente espera encontrar amanhã nunca chega.
O que esquecemos é que o tempo não se encontra, ele se faz. Num café bebido devagar, sem pressa para acabar. Numa pausa de cinco minutos para observar o céu sem motivo algum. Num respiro fundo antes de abrir a próxima mensagem no WhatsApp.
Talvez seja esse o segredo: criar pequenas frestas no dia para lembrar que ainda estamos vivos. Porque, no fim, a vida não vai nos dar mais tempo — mas podemos sempre roubar uns minutos dela.
E que eles sejam nossos. ✨